A guerra nas sampling rates
A constatação de que a guerra na área das sampling rates continua, aparentemente, viva está demonstrada na reacção provocada por este artigo da MIX , cujo link publicámos recentemente na nossa página do Facebook.
Nele o seu autor refere o facto de muitos aceitarem utilizar na conversão analógico-digital os valores mínimos para os parâmetros da operação, muito abaixo dos que poderiam ser proporcionados pela tecnologia actual, com o argumento de que esses parâmetros garantem a reprodução de um sinal adequado e de que a diferença, se usados parâmetros mais exigentes, mesmo que mais consentâneos com as possibilidades actuais da tecnologia, não faz diferença, não é perceptível.
O assunto merece, de facto, reflexão aprofundada, que permita uniformizar terminologias, clarificar os aspectos problemáticos que este assunto levanta e esclarecer o que está verdadeiramente em causa.
Quando Alan Reeves criou o método de conversão analógico-digital do sinal áudio — que continua na base de toda a tecnologia que ainda hoje se usa para este efeito—, o Pulse Code Modulation (PCM), estávamos em 1937.
A motivação e as aplicações potenciais deste método tinham uma finalidade muito específica: melhorar a qualidade das telecomunicações. Reeves desenvolveu o método sem, aparentemente, saber que os seus fundamentos tinham sido gizados já nos anos 20, mas foi ele que o sistematizou e desenvolveu, nos termos em que hoje o conhecemos. A preocupação de Reeves, na altura e especificamente, era a de melhorar os sistemas de comunicação de voz. O método foi utilizado, pela primeira vez, durante a 2ª Grande Guerra. Foi sofrendo sucessivos aperfeiçoamentos, permanecendo, contudo, a sua aplicação sempre na esfera das comunicações de voz.
Só muito mais tarde os princípios do PCM se estenderam ao broadcast e ao registo de som. As primeiras aplicações tiveram lugar no Japão e em Inglaterra e datam dos anos 60. A primeira gravação digital comercial é de 1971. A introdução do CD no princípio dos anos 80 popularizou, em definitivo, o "digital" e o resto, como se costuma dizer, é história.
Entretanto, é bom recordar, segundo a Lei de Moore, a capacidade dos processadores digitais tem duplicado a cada dois anos, se bem que uma análise mais cuidada revele que este ciclo abrandou ligeiramente, desde há algum tempo. O aumento da capacidade dos processadores não exibe sinais estagnação, antes pelo contrário, e todos estaremos certamente de acordo que hoje demonstraríamos total falta de lucidez se não tirássemos partido deste potencial que ciclicamente duplica.
Os campos de aplicação da tecnologia PCM e os resultados obtidos com ela estão a anos-luz de distância do que se passou quando Reeves a introduziu e a discussão tem hoje necessariamente de se situar — parece lícito pensar assim —, não no plano abstracto dos seus méritos ou deméritos ou no interesse que o utilizador final mostra em relação a este assunto, mas no modo como é possível realizar todo o seu potencial. Designadamente no que respeita os parâmetros de conversão e outros factores (muitos deles estranhos ao processo de digitalização e ligados antes ao processo de reprodução) que, sendo espúrios em relação ao processo em si, o limitam e condicionam. Uma discussão que se debruce sobre os elementos que intervêm concretamente na cadeia de produção do sinal até chegar aos ouvidos do ouvinte-consumidor final e, igualmente, sobre os campos de aplicação que ainda parecem estar por explorar.
É no sentido de fomentar essa ampla discussão, que a todos interessa, e de permitir clarificar os seus termos, que introduzimos aqui este tópico. Aberto a todos e para a qual encontraremos oportunamente a sede adequada.
Para já, no sentido de lançar essa discussão e tendo como ponto de partida o artigo da MIX, propomos aqui uma série de referências que podem revelar-se úteis para ajudar a clarificar pontos de vista.
Um destaque para o artigo publicado pela engenheira de som Suse Ribeiro, que constitui um sólida base para iniciar esta discussão.
A este artigo, que disponibilizamos aqui na íntegra, acrescentamos uma pequena lista adicional de livros, artigos e outros documentos. Estes livros e artigos contêm, por sua vez, outras referências úteis.
Vamos actualizar esta lista, pelo que pedimos que se mantenham atentos a esta página.
É uma guerra sem quartel. Entre a Matemática, a Física e a Estética. Nesta guerra todos fecham alas.
A propósito de um post publicado na nossa página do Facebook gerou-se uma saudável troca de opiniões. Vamos aqui acompanhá-la e prometemos ajudar a desenvolver o assunto e contribuir para uma cada vez maior clarificação.